Voluntariado… Porquê?

Voluntariado… Porquê?


A Martina é Italiana e está a fazer um experiência de voluntariado de longa duração em Lisboa. Esta entrevista foi realizada em abril de 2020, durante o confinamento por causa do Coronavirus. Durante esta entrevista estávamos sentadas na varanda a ouvir os pássaros a chilrear, havia um cheiro a flor de laranjeira no ar e começámos a fazer planos para o que queríamos fazer quando pudéssemos sair de casa. Esta foi uma ótima oportunidade para refletirmos sobre a nossas vidas antes do vírus e quais os planos para o futuro. 

O que te inspirou a tornares-te uma voluntária CES? 

Quando eu morava com os meus pais eles estavam sempre envolvidos em atividades de voluntariado na nossa cidade. O meu pai trabalhava no banco alimentar local e eu sempre achei que era bom poder fazer voluntariado para além das minhas atividades do dia a dia. Quando terminei a universidade decidi procurar projetos de voluntariado no estrangeiro. Fiz voluntariado na Jordânia durante alguns meses e depois decidi procurar um projeto dentro do Corpo Europeu de Solidariedade. 

Porque é que te querias tornar voluntária? 

Porque acho que os recursos padrão de uma comunidade não são suficientes para atender a todas as suas necessidades. Em teoria deveriam ser o suficiente, mas não o são, e por isso deve ser feito um esforço extra. Eu decidi tornar-me voluntária para preencher essa falha e fazer algo de bom para a comunidade. Mesmo que fosse durante um curto período de tempo e para uma comunidade pequena. 

O que fazes na associação? 

Eu trabalho no centro de jovens +Skillz. Trabalho com jovens, dos 6 anos até aos 20 ou 21 anos. Eles vêm para o centro durante a tarde e podem estudar, têm ajuda para fazer os trabalhos de casa ou qualquer outro tipo de estudo. Podem também passar o tempo livre e jogar ping-pong. Temos um estúdio onde eles podem gravar música e temos computadores onde eles podem fazer trabalhos. E eu ajudo-os, como voluntária, em tudo o que eles precisam, como por exemplo a organizar atividades ou apenas a preparar o espaço para os receber.

O que mais gostas no teu trabalho?  

Eu gosto de estar em contato com os jovens. É a primeira vez, por isso acho-o muito inspirador e aprendo muito com eles… Mais do que estava à espera.  

Tinhas algum medo antes de te mudares para outro país? 

Sim, eu já me mudei muitas vezes para diferentes sítios e países, e foi sempre muito emocionante, mas sempre tive medo que não fosse um lugar para mim. Por isso, antes de me mudar para Portugal estava muito entusiasmada mas ao mesmo tempo assustada porque estava-me a mudar de um país no qual não me sentia em casa. Mas foi apenas no início, porque me senti logo em casa em Portugal.

E qual foi o primeiro país para o qual te mudaste? 

Para a Argentina quando tinha 17 anos.

Quais foram as maiores diferenças entre mudar para a Argentina e mudar para Portugal?  

Para mim foi mais fácil mudar-me para Portugal porque a cultura é mais próxima da minha, a cultura Italiana. Também porque quando mudei para a Argentina era muito nova e era a primeira vez que estava a morar noutro país. Estava assustada. Por outro lado, desta vez vim com uma mente mais aberta e mais disponível para aprender, tenho mais paciência comigo mesma e mais experiência.

Do que sentes mais falta de Itália? 

Sinto falta de falar Italiano. Eu percebi – depois de aprender outras línguas – que na realidade não é a mesma coisa expressar alguns conceitos em língua estrangeira como é na minha própria língua. Também tenho saudades da minha família, mas sempre que posso falo com eles ao telefone.

Tens alguns hobbies novos? 

Antes do coronavirus eu comecei a participar num clube de teatro. Também comecei a explorar a cidade, a descobrir novos sítios. Recentemente comecei a fazer jardinagem, uma vez que estou em casa por causa do vírus. 

Que tipo de impacto esperas alcançar com o teu projeto? 

Eu espero que de alguma forma os jovens com quem estou em contato consigam encontrar em mim algum tipo de inspiração e que me considerem uma amiga com que podem conversar e a quem podem pedir ajuda. O impacto que gostava de deixar no +Skillz era o de ajudá-los a encontrar novas formas de comunicação.

E que tipo de impacto achas que o teu projeto vai ter na tua vida? 

Espero que me ajude a perceber o que quero fazer na vida, apesar de eu saber que é um objetivo muito grande. Espero que me traga novos conhecimentos e me leve a um patamar onde não esperava estar.

Que planos tens para o tempo restante do teu projeto? 

Espero puder regressar ao centro de jovens e poder-me encontrar com os jovens outra vez. Espero que possamos retomar as atividades que foram suspensas, por exemplo, eu estava a fazer workshops sobre artesanato. Durante o verão vamos fazer algumas viagens por Portugal com os miúdos. Também quero melhorar algumas das atividades que já tínhamos.  

Na verdade, eu já vinha com a ideia de ficar no país depois do meu projeto terminar. Durante o meu projeto eu quero descobrir se Portugal é o país onde quero viver. E se não for, quero poder perceber qual é o destino final da minha viagem e estabilizar a minha vida.

Tens algum conselho que queres deixar a quem está a ler esta entrevista? 

Em todas as experiências que tive até agora o caminho acabou por ser diferente daquilo que eu estava à espera – por exemplo, agora estamos a viver uma situação estranha. Mas mesmo quando as coisas que não estavam programadas eram menos positivas, acabei sempre por me encontrar numa posição nova e até melhor. Por isso, a conclusão é nunca desistir! 

Entrevista feita pela voluntária Dóra Biricz enquadrada no projeto #cidadania.