A Dusica foi uma voluntária de longa duração em Lisboa em 2018. Ela está de volta à Sérvia, pelo que fizemos a entrevista através de uma chamada de Skype. Esta foi a nossa primeira conversa e fez-me acreditar que a tecnologia realmente consegue conectar pessoas: no fim, ambas concordámos que mais parecia que nos tínhamos acabado de encontrar com uma amiga no café.

O que te inspirou a tornares-te voluntária?

Como eu era muito nova, na altura queria viajar, experienciar outros países e culturas, explorar o mundo. Isso é bastante difícil para mim porque eu venho de um país que não faz parte da União Europeia, e por causa disso não é fácil viajar, trabalhar ou ser voluntária no estrangeiro. Quando eu ouvi falar sobre o Serviço Voluntário Europeu, eu soube logo que me queria candidatar. Foi uma excelente oportunidade de aprender sobre mim mesma enquanto ajudava comunidades locais.

Porque é que querias ser voluntária?

Eu já era voluntária quando era estudante. Na Sérvia, não é comum estudar e trabalhar ao mesmo tempo, mas eu queria passar o meu tempo livre a fazer alguma coisa de útil. Fiz algumas atividades em associações de estudantes e ONGs e gostei bastante! Tive a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas que têm os mesmos interesses que eu e aprendi bastante sobre mim nesse período da minha vida.

O que fazias na Mais Cidadania?

Eu fazia parte da equipa do escritório e tratava de tarefas relacionadas com a comunicação. Eu contribuía para as redes sociais, um pouco para o website e para o blog. Também organizava o Multi Kulti todos os meses. Além disso, ajudava durante os workshops nas escolas. Bem vistas as coisas, ajudava em tudo o que me pediam.

O que gostaste mais?

Esta foi a primeira vez que trabalhei num escritório e, para ser honesta, eles colocaram o patamar bem alto! Se eu alguma vez tiver um trabalho de escritório tem de ser tão bom como aquele! A atmosfera era muito boa, tudo o que fazia era novidade para mim, portanto aprendi bastantes coisas enquanto o fazia, e havia sempre alguém para me auxiliar. Era um ambiente bastante bom para aprender e melhorar.

Tiveste algum projeto pessoal?

Tive sim. No início, não sabia o que fazer, mas depois falei com uma amiga da Sérvia que me lembrou o quanto eu gosto de música. Depois, comecei a pensar que aquilo que fizesse teria de estar relacionado com música. Acabei por fazer um vídeo que se chama “Os sons de Portugal”. Tem música e sons de muitas muitas coisas, como do oceano, dos meus amigos, etc.

O que sentiste mais falta da Sérvia?

Não senti falta de muitas coisas, porque sabia que estaria em Portugal durante um período definido de tempo. Tive saudades dos meus amigos e da minha família, e foi estranho não os poder ver sempre que eu queria. Senti falta de alguns sabores de comida, que são um pouco diferentes entre a Sérvia e Portugal. Por exemplo, os tomates, os pepinos ou o ketchup… São pequenas coisas que podem significar bastante. A refeição que senti mais falta foi a burek, uma espécie de tarte que pode ser feita com queijo, espinafres, tudo o que tiveres na cozinha. Normalmente comemo-la ao pequeno-almoço. Não podia comprar em lado nenhum, e até a podia fazer, mas claro, não iria ser a mesma coisa.

Que impacto teve o voluntariado na tua vida?

Tenho dito a todas as pessoas que foi o melhor ano da minha vida! É uma oportunidade realmente fantástica! Atualmente acredito que devia ter feito ainda mais durante o meu projeto, para a organização e para mim própria também. Enquanto lá estive durante o voluntariado sentia que estava sempre muito ocupada, e estava sempre a tentar fazer coisas novas. Mas agora, ao olhar para trás, sinto que não usei todos os minutos ou momentos. Por outro lado, acho que isso é um sentimento natural mesmo que olhes apenas para o verão passado e penses no que estavas a passar nessa altura.

E qual é o teu conselho para as pessoas que estão a ler a tua entrevista?

Esta oportunidade tem uma razão de ser, é livre para todos a utilizarem. Portanto, se tens tempo, porque não aproveitas? O voluntariado é uma boa oportunidade para viajar, para descobrir quem és, ou para descobrir qual é o teu propósito na vida. Isto foi o que aconteceu comigo, com os meus amigos, e com o meu irmão também. Existem tantos projetos que todos conseguem encontrar o mais adequado para si!

Entrevista feita pela voluntária Dóra Biricz enquadrada no projeto #cidadania a 01. 07. 2020.