Quem escolher para a comunidade?


Quais são as características que nos fazem ser bons ou maus cidadãos e boas ou más cidadãs?

Esta é a pergunta que paira sobre a sessão que a Mais Cidadania está a organizar nas escolas sobre Cidadania e Participação. O cenário colocado é apocalíptico e requer debate, entendimento e uma difícil escolha por parte dos nossos e nossas jovens:

“Devido à catástrofe climática, o Ser Humano está a planear enviar uma nave espacial para continuar a civilização humana noutro planeta. Cada país tem direito a enviar apenas 6 pessoas, pelo que foi selecionado este pequeno grupo de pessoas residentes em Portugal do qual serão selecionadas as pessoas a enviar.”

Em “Quem escolher para a comunidade?” as e os jovens são confrontados com aquilo que mais valorizam quando falamos de ser um cidadão ou cidadã exemplar. Cada personagem tem as suas qualidades e defeitos, um pouco à semelhança das pessoas que conhecemos no nosso dia a dia. O poder está todo do lado dos e das jovens – a argumentação e a defesa das personagens, a escolha de quem representar Portugal. Quais têm sido os resultados então?

As escolhas indiscutíveis

Apenas duas personagens foram escolhidas em todas as sessões realizadas até agora: Sara, uma advogada de 27 anos que trabalha para uma empresa de exploração petrolífera, e Natasha, uma prostituta de 29 anos formada em enfermagem no seu país de origem. Partilham o facto de serem jovens mulheres e saudáveis, férteis e com a capacidade (e vontade) de terem filhos. O que as distingue revela algumas das preocupações que os grupos encontram no seu futuro no novo planeta: a ordem (a capacidade de Sara redigir e interpretar leis é frequentemente mencionada) e o bem-estar físico (o curso de enfermagem de Natasha é bastante valorizado).

A comissão tem a tarefa de decidir quais as personagens que vão em representação de Portugal.

A escolha frequente destas personagens revela a corrente de pensamento comum entre todos os participantes: é a capacidade das personagens contribuírem para o planeta futuro que interessa, não o que elas fizeram no passado no Planeta Terra. Tanto o lobbying de degradação ambiental efetuado por Sara, como a origem e a controversa profissão atual de Natasha passam sempre sem grandes impasses. É também interessante notar que uma personagem não originária de Portugal tenha sido sempre escolhida para fazer parte da representação do país, o que prova novamente que não é o passado que interessa nas escolhas dos jovens, mas sim a capacidade para construir um futuro melhor.

Um futuro fértil

A questão do futuro aparece naturalmente nas preocupações das e dos jovens. Ainda que metade das personagens não sejam férteis ou não tenham interesse em procriar, elas são apenas escolhidas uma em cada quatro vezes, três vezes menos do que as personagens férteis. Este é aliás o fator que mais influencia o momento de escolher as personagens.

A escolha pela fertilidade trata-se de isso mesmo: uma escolha. E isso faz com que outras personagens com outras qualidades sejam preteridas, como por exemplo em aspetos culturais ou sociais. A Paula, por exemplo, não consegue que a sua profissão numa associação de ação social consiga apagar o fato de sofrer problemas de infertilidade, e, como tal, nunca foi escolhida. Os e as jovens apontam também a um futuro sem religião e sem guerras, com o Joaquim sacerdote e o Vítor militar a serem escolhidos apenas três vezes entre si.

Por fim, será interessante comparar a diferença de escolhas entre as diferentes escolas visitadas. A EBJC Barreiro escolheu o jovem Eduardo e esposo Gustavo nas suas três sessões, enquanto que a EBJC Lisboa os escolheu apenas uma vez. Em sentido contrário, Lisboa escolheu a cientista Rute três vezes, o Barreiro apenas uma.

Podes consultar aqui os resultados completos das sessões: