
Entrevista à Greve Climática Estudantil
A Greve Climática Estudantil juntou-se novamente dia 29 de novembro para continuar a luta pela responsabilidade climática. A Mais Cidadania aliou-se ao protesto e aproveitou para conversar com a Raquel Moreiras e com a Francisca Moura dos Santos. Ao longo de uns breves minutos fizemos uma retrospetiva ao primeiro ano de ativismo da Greve e falámos sobre aquilo que o futuro pode trazer ao movimento.
Estamos a chegar ao fim do primeiro ano de Greve Climática Estudantil. Como caracterizam esta viagem?
Francisca – Até agora tem sido um crescendo, uma onda gigante. Até é estranho pensar que a Greve não tem um ano; por tudo o que já passámos, pelo impacto e pelas mudanças que a Greve provocou. 27 de setembro foi uma bomba a rebentar. Agora a 29 de novembro estamos à espera que talvez não venha tanta gente, mas sei que o impacto vai ser super importante. Não devemos de deixar de nos esforçar e de ter tanta energia por não vir tanta gente.
Raquel – Nós realmente começámos muito poucos nas primeiras reuniões, eramos 20 ou 30. Na manifestação de março a nossa estimativa era aparecerem 300 ou 400 pessoas, e apareceram quase 10000. Foi uma surpresa gigantesca. A greve internamente já passou por muitas fases: houve aquele impacto inicial em que as pessoas não sabiam muito bem o que se estava a passar, mas agora cada vez mais se fala da Greta e das alterações climáticas. Isso tem-nos permitido ver já algumas das nossas exigências serem concretizadas, mas não completamente. Por isso é que é importante continuarmos aqui, mesmo que hoje esteja a chover, ou esteja frio, nas alturas de exames… É importante mantermos essa consistência, e simplesmente explicar que estamos aqui para ficar até vermos tudo concretizado.
E têm notado alguma diferença na postura das pessoas em relação ao movimento e às vossas reivindicações?
Francisca – Eu acho que o movimento está a crescer de uma maneira exponencial. Não nos podemos esquecer onde e há quanto tempo começámos. Para esse tempo, o impacto alcançado é imenso. Se não fosse o Fridays for Future a chegar a Portugal, o ambiente não seria um assunto tão falado nas legislativas, as propostas dos partidos não teriam ido nessa direção, a central de Sines se calhar ainda não tinha fechado. Não podemos dizer que foi por nós, mas o borburinho que fizemos deixaram as pessoas mais desconfortáveis e a pensar nesse assunto.
Raquel – A quantidade de pessoas que se identifica e se consciencializa com o movimento cresceu inquestionavelmente. No entanto, uma parte significativa ainda não sabe o que está a acontecer, nem sabe o que tem de fazer para impedir a catástrofe climática. Ainda há muitas pessoas que vêm de fora que julgam mal ou não sabem o que é o movimento, quer seja pela causa, quer seja pelo facto de ser estudantil…
O que diriam para motivar os jovens que veem essas tentativas de descredibilização do movimento e da Greta?
Francisca – Eu diria que tanto a Greta como todos nós somos uma imagem. Dentro da justiça climática há várias funções, e a nossa função não é escrever propostas de lei, não é fazer desobediência civil. Nós como Fridays for Future fazemos mobilização em massa para consciencialização. As pessoas criticam muito a Greta porque ela não está a fazer, mas ela é uma ativista, não é uma cientista, não é uma política, e nós estamos a tentar seguir o exemplo dela para acordar as pessoas.
Raquel – As pessoas que estão por fora e que tentam descredibilizar o movimento fazem muitas vezes parecer que existe um culto à imagem dela. Mas a Greta não é uma imagem de culto, é uma rapariga tal como nós, que nós apenas louvamos imenso por ter beneficiado esta iniciativa.

Fonte: Facebook Greve Climática Estudantil
Como tinham mencionado, nas últimas legislativas já se começou a falar das causas defendidas pelo movimento, e o Parlamento Europeu já aprovou a emergência climática. Agora que começámos a ir na direção certa, como é que vocês imaginam o próximo ano para o movimento?
Raquel – Honestamente, acho que as coisas vão mudar ainda mais do que mudaram até agora. O ano 2020 vai ser o ano do ativismo ambiental porque há um grande movimento a nível mundial. By 2020 we rise up. Vão ser ações a despoletar por todo o lado em simultâneo, durante o ano inteiro, a nível mundial.
Francisca – Além disso, a Greve não é só greve. A Greve é uma imagem mais pública, mas o movimento pela justiça climática em Portugal é toda uma união de coletivos. Nós somos toda uma força que, pelo ano de 2020, vamos mesmo rise up e vamos partir com isto tudo.
No #cidadania abordamos as temáticas climáticas e motivamos à participação das e dos jovens como forma de procurar as soluções necessárias. Acham que no futuro a Greve Climática Estudantil se pode relacionar com este tipo de iniciativas para promover a ação no campo ambiental?
Raquel – Eu gostava de dizer que sim. Para a greve de 27 de setembro juntámos-mos a outros coletivos que sempre nos apoiaram desde o início, o que é importante porque isto é uma luta interseccional. Apesar do movimento ter começado como um movimento estudantil e de sermos nós a fazer greve, o que afirmamos é que estão a tirar o futuro, não só o nosso, mas o futuro de todas as pessoas do Planeta Terra. E ainda temos um longo caminho a percorrer. Por isso, eu acho que é muito benéfico trabalhar em conjunto com a sociedade civil, com todos estes coletivos e com todas as pessoas que se quiserem juntar a nós. É por isso que fazemos muitas formações em várias áreas para estarmos capacitados a ter um debate sério, conciso e informado acerca daquilo por que lutamos. Desta forma, acho que vamos estar a motivar não só os jovens, mas também pessoas mais velhas e de outros setores.
Para terminar, que conselhos deixam às e aos jovens que não têm acesso a estas grandes demonstrações, mas que ainda assim se queiram envolver mais com o movimento?
Francisca – A Greve Climática é nacional, há várias regiões também mais pequenas que estão envolvidas, e nós como greve nacional estamos sempre a tentar incentivar pessoas. A tua cidade é pequena? Nós podemos ajudar, damos-te conselhos, mas acho que começa pelo interesse. A greve em Lisboa também começou do nada! A partir do querer passa para ir falar com estas pessoas, dar estas palestras, chamar estas pessoas, marcar greve, falar com a polícia…
Raquel – Eu vejo muito isso porque tenho um irmão mais novo numa pequena ilha dos Açores, onde só há uma secundária com umas poucas centenas de pessoas. Quando comecei a fazer parte da organização aqui em Lisboa algumas pessoas mandaram-me mensagens e, apesar de eles serem muito poucos, houve pelo menos três ou quatro que fizeram greve. Essa mobilização em escolas mais pequenas pode ser mais fácil, porque são menos pessoas, mas ao mesmo tempo isso faz com que o impacto para eles não pareça tão grande. Essa indiferença ataca mais facilmente… Eles pensam: estamos aqui, estamos afastados de uma grande ação que está a acontecer, do que é que vale a pena estarmos a levar uma falta injustificada para ser eu e mais três a gritar à frente da câmara municipal? Eu acho que eles não sentem essa motivação que lhes devia ser incutida não só por outros jovens, mas também pelas escolas, pelas câmaras e por esse lado institucional.