
Voluntariado… Porquê?
A Anna-Leea foi uma voluntária de longa duração na Associação Mais Cidadania em 2018. Encontrámo-nos num dia quente no Miradouro do Monte Agudo, sentámo-nos à sombra e falámos da sua experiência como voluntária. Uma cadela interrompia-nos por vezes com a sua beleza e vontade de brincar, mas felizmente conseguimos conversar e brincar com ela ao mesmo tempo.
O que te inspirou a tornares-te voluntária?
Há cinco anos, eu estava na Sicília num intercâmbio para jovens e conheci algumas raparigas que tinham realizado um serviço de voluntariado e que me falaram desta opção. Na altura, eu era muito nova ainda, mas comecei a procurar oportunidades. Queria fazer algo com significado, com o qual tanto eu como a comunidade pudéssemos beneficiar.
Porque é que querias ser voluntária?
Eu pensei que, enquanto és voluntária, o mínimo que podes dar és tu mesma. Não recebes dinheiro ou outras coisas materiais, mas, por outro lado, recebes muitas outras coisas que não consegues receber num trabalho. Num trabalho remunerado tens a necessidade de ir trabalhar porque precisas do dinheiro – por vezes podes nem gostar daquilo que fazes. No entanto, quando eu era voluntária, acordava todos os dias com o sentimento de que tinha sido eu a escolher fazer aquilo!
O que fazias na Associação Mais Cidadania?
Eu era voluntária no +Skillz e participava no dia a dia do centro de jovens. Ajudava a organizar eventos para os jovens e fazia parte da pequena comunidade do centro. Também ajudava nos eventos nas escolas, nas formações e a organizar o Multi Kulti.
O que mais gostaste no teu projeto de voluntariado?
Acho que o que eu mais gostei foi de fazer parte da pequena comunidade do centro de jovens. Para além disso, houve bastantes outros pequenos momentos que adorei.
Desenvolveste algum projeto pessoal?
Sim, desenvolvi! Estava relacionado com o perfil de Instagram do +Skillz. Não fui eu que o criei, mas mudei toda a aparência do seu Instagram e passei a publicar bastantes mais histórias e fotografias lá. O motivo pelo qual eu senti que precisávamos de uma página de Instagram mais ativa foi porque essa era a plataforma nas redes sociais onde poderíamos alcançar mais jovens. Publicávamos a agenda e as atividades que iríamos fazer naquele dia.
E porque é que escolheste esta área?
Estava a tentar pensar como uma adolescente, e desse ponto de vista imaginei algumas questões. “O que é que o +Skillz precisa de fazer para alcançar os jovens?” “Como é que podemos chamar a sua atenção?” Aí percebi que, se eu fosse adolescente e fosse ao +Skillz uma ou duas vezes por semana e me dissessem os eventos planeados, iria-me esquecer deles imediatamente. Por outro lado, se isso tiver escrito numa rede social que eu uso, mais facilmente vou a essa atividade porque não me vou esquecer.
Tinhas algum receio antes de te mudares para Lisboa?
Não diria que tinha receio antes de me mudar para aqui, mas estava um pouco ansiosa com a experiência que iria ter. Tinha algumas perguntas a flutuar na minha cabeça – será que iria fazer novos amigos? Será que os jovens no +Skillz iriam gostar de mim? E o que aconteceria se ninguém gostasse de mim?
Sentiste falta de algo da Finlândia?
Senti falta dos meus amigos e da minha família, claro. Além disso, por vezes senti falta do método de trabalho finlandês. No início, precisei de tempo para me habituar à ideia de que aqui preciso de tomar a iniciativa e propor coisas originais. Tinha pessoas que me auxiliavam, mas ninguém me dizia exatamente o que fazer. Também senti falta da forma em como as pessoas olham para o tempo quando nos encontramos. Na Finlândia, se eu me vou encontrar com alguém às 15h, estou no lugar combinado às 14h50 só para ter a certeza de que consigo chegar a horas. Em Portugal a situação é diferente: se planeamos encontrarmo-nos às 15h, normalmente significa que chegamos por volta das 15h15 ou 15h30. Então, no início estava constantemente à espera das pessoas.
Que impacto é que o voluntariado teve na tua vida?
Eu sinto que o meu projeto de voluntariado realmente mudou a minha vida! Mesmo antes de me ter candidatado já sabia que queria estar envolvida com a área da juventude, mas não tinha a certeza se era capaz de o fazer ou como tornar esse sonho realidade. No entanto, enquanto fui voluntária aprendi sobre liderança, sobre como tomar a iniciativa e, mais importante que tudo, aprendi bastante sobre mim! Aprendi como lidar com diferentes situações na vida, uma vez que a casa onde vivíamos era como a casa do “Big Brother”. Ninguém sabia quem poderia aparecer, se iria gostar daquelas pessoas, se seriam asseadas ou mais desleixadas, se iriam ouvir a pior música à face da terra, etc… Para mim, foi uma grande descoberta perceber que não tenho de ser a melhor amiga de todos – também preciso do meu tempo e de fazer aquilo que mais gosto.
Porque é que decidiste ficar em Portugal depois do teu projeto de voluntariado ter terminado?
Depois do meu projeto ter terminado fui para o Brasil, viajei e aproveitei a América do Sul. Depois, como não tinha dinheiro suficiente para voltar para a Finlândia, decidi voltar para Portugal. Além disso, também queria passar aqui a Primavera e ver o que o país tem para me oferecer. Senti que tinha construído uma nova vida aqui, e tinha receio de voltar à minha vida antiga na Finlândia, uma vez que tinha um motivo para a ter deixado para trás.
Tens algum conselho para as pessoas que estão a ler esta entrevista?
Tem uma mente aberta, vive sem expectativas! Ouvi histórias de diferentes voluntários e organizações que tinham expectativas estranhas e erradas. Tens de ir com a maré, especialmente se fores voluntário de longa duração. Não te apresses – habitua-te ao novo ambiente e fica confortável, porque dessa forma vais também ser mais confiante. E experimenta coisas novas, coisas que nunca farias no teu país de origem!
Entrevista feita pela voluntária Dóra Biricz enquadrada no projeto #cidadania a 22. 05. 2020.